13/07/2009

ALVO: CABEÇA


"Saiba que os poetas, como os cegos, podem ver na escuridão" Chico Buarque

VERDADEZINHA

Coitadinha.Foi encontrada choramingando,sozinha,sentada no banco quebrado de uma praça deserta,com os joelhos encostados ao corpo e o rosto entre eles.Pobrezinha,parecia tão desolada,tão desconsolada.
Quando questionada sobre o que a deixava assim tão depressiva,tão entregue,insistia em dizer entre soluços que não lhe davam o devido valor,que era sempre destratada ou que se faziam absurdos em seu nome.E isso a tornava bastante frustrada e desiludida.
Queria ser melhor interpretada,melhor compreendida,mas entendia que nesse mundo todos a evitavam e que não tinham culpa: ela era a culpada por tantas vezes ser tão inconveniente,tão direta,tão irremediável ou inadequada.

E se contorcia toda, num misto de inveja e malogração quando afirmava que era à sua irmã gemêa que todos tanto adoravam:embora fossem em essência muito parecidas, sua irmã era o que era e servia aos mais diversos fins,era versátil e sagaz,nunca sendo tachada de volátil,diversa ou relativa.Dizia que o único defeito dessa sua irmã,pelo que todos falavam, era ter a perna curta demais.
Desgraçada menina.Dizia com certo brilho sonso nos olhos que se achava,sim,linda como todos podiam observar.E que muitos o observavam,sim,mas não reconheciam por muito tempo tal beleza, bastando a esse tempo o tempo de sua utilidade.Sentia-se assim,uma inutilidade funcional.Reconhecia-se como um despropósito invonlutário,como um disparate mal-acabado, e que assim continuaria sendo até que deixassem de ter medo dela.

Após registrado seu depoimento, o delegado muito comovido com toda aquela situação,vendo diante de si uma menina com ares de mulher forte e exuberante escondendo-se resignadamente por detrás da imagem de um quase bebê frágil e dependente,lembrou-se que ainda não tinha perguntado o nome da garotinha e isso precisava ser observado no ofício.
Ela voltou-se para o delegado,com o mesmo semblante derrocado,mas agora com um sorriso fugaz,e declarou com um tom de voz quase imperceptível diante de todo o barulho,de todo o caos e agitação instalados na delegacia,que seu nome era VERDADE.

08/07/2009

SOBRE INQUIETAÇÃO


Daquele tipo que costuma acontecer quando você entra na fila de um banco, por exemplo, e percebe quase que de soslaio, que todos ali presentes estão olhando pra você com um ar curioso e inquisidor;

Ou então diante daquela vontadezinha irrefreável de peidar,estando ao lado da namorada.Num restaurante cheio de requinte e completamente lotado.Sentado à mesa também com os pais da garota.

Quando você se vê deitado num leito de hospital e recebe do médico de confiança a notícia de que,possivelmente, nada mais pode ser feito, e que irá morrer.Ou ficar cego.Ou paraplégico.Ou impotente.

Também o pai diante do filho que não para de chorar nervosamente e não se consegue saber as razões.A mãe que espera ansiosa o filho que saiu às dez prometendo que voltaria às três.Isso há 5 dias atrás.O padre que, em meio à seu sermão, vê entrar em seu templo um bêbado cantando e dançando em louvor a um deus, sim,mas grego e de nome Baco.

A velha pedrinha no sapato apertado(precisa dizer mais?)

Tal qual a dona de casa que vê, estarrecida, o herói de sua novela preferida derrepente morrer para o real e para a ficção, o menino que quer colar na prova da escola, estando sentado diante da professora,e a professora que não aguenta mais ver o mesmo menino colar,sem se preocupar em aprender o que ela insiste em ensinar.



Tanto do cotidiano incomoda que não consegue-se perceber que é o próprio cotidiano que importuna e que o mesmo precisa ser reformulado a fim de que não se habitue ao importúnio e ao desgosto, mais ou menos como já estamos lamentavelmente acostumados.

Aquela notícia causa inquietação.Quando na fila, pode-se desviar os olhos e sorrir,pode-se ir ao banheiro para peidar,pode-se entender que a morte é fim inevitável, e que a perda de algumas coisas de um todo não é a perda de um todo,enfim.Mas, aquela notícia,aquela mesmo que transtorna,o que se faz com ela?

07/07/2009

ALVO: CABEÇA

"A grandeza do homem consiste na sua decisão de ser mais forte que a condição humana." ALBERT CAMUS

ANTIROMANTIN


ANTIROMANTIN

Cloridrato de antiromantina



Cada ml de ANTIROMANTIN contém 0,38 mg (0,038%) de cloridrato de antiromantina em uma solução líquida, isotônica e estéril.



INFORMAÇÃO AO PACIENTE

Antiromantin está indicado para o alívio sintomático de dores na região cardíaca, não associadas a males de origem física ou fisiológica,e sim,vinculados ao sentimento denominado amor. Também indicado na prevenção de alguns tipos de desilusões, sentimentos de perda e abate associados ao mal do romantismo exagerado e suas respectivas consequencias.

A duração da ação depende, invariavelmente, além da disposição do paciente ao reagente da fórmula, também da dimensão e da força exercida pelo sentimento ativo existente.

O tratamento deverá ser continuado até que os sintomas desapareçam.Entretanto, se os indícios da doenã reaparecerem após um período significativo de melhora, fica a critério do médico responsável e do paciente, a decisão de retomar o uso deste medicamento.

ANTIROMANTIN está contraindicado em pacientes que demonstrem evidências de romantismo crônico, caracterizado por patetice aguda, suspiros repetidos e prolongados, per[iodos de ausência,excesso de sudorese (em algumas ocasiões) e certa medida de descontrole emocional, uma vez que esses são casos comprovadamnte irresolúveis.



INFORMAÇÃO TÉCNICA

O cloridrato de antiromantina produz uma sensação de conforto dos males do amor romântico não-correspondido,devidamente testada por profissionais éticos e responsáveis.

O mal do amor não correspondido não apresenta, até então, um composto farmacêutico com eficácia suficientemente atestada e comprovada para o seu combate;apenas os seus efeitos a curto e longo prazo serão dissipados com o uso correto deste medicamento.



PRECAUÇÕES
Apesar dos conhecidos malefícios do sentimento amor, não é certo o quão prejudicial pode ser a excessiva dosagem de ANTIROMANTIN. Cientistas responsáveis pela elaboração de ANTIROMANTIN atestam que o romantismo e suas manifestações, em determinado grau, podem não ser de origem nociva.Portanto, faz-se necessária a atenção incondicional às precauções eindicações do médico, constadas na receita,e o não excedimento da dosagem recomendada.

REAÇÕES ADVERSAS
ANTIROMANTIN, por sua natureza, pode trazer como efeitos colaterais a melancolia, o sentimento de solidão e carência, o mal do alguma-coisa-está-faltando,além de dor de cabeça e alguns momentos de desequilíbrio psicoemocional.

POSOLOGIA
3 a 4(três a quatro) comprimidos ao dia, enquanto o sentimento amor ainda se manifestar evidencialmente.

06/07/2009

OLHAR CLÍNICO

-Só mesmo alguns políticos de "muita boa vontade",e muitos dos que fazem desse país o país que é (entende-se nós),não entendeream que o nome "Opportunity" só podia mesmo estar ligado a mais uma oportunidade para os corruptos aprontarem das suas por debaixo dos panos.
-E agora que os panos caíram,resta a pergunta: alguma coisa mais vai cair?
-Sabem quem foi Robert Mcnamara?Um ícone da Guerra Fria.Digo foi, porque morreu.Diferentemente da Guerra Fria, que por mais que a coloquem como sepultada sempre resolve dar o ar de sua graça em forma de testes nucleares norte-coreanos, por exemplo.Um,vai tarde.A outra tarda a ir.
-Senado com 3 contas bancárias ocultas, criadas em 1997, com um saldo atual de 160 milhões de reais, movimentados sem a devida fiscalização: diga-me, o Senado presta-se realmente a algum serviço que não seja em benefício do próprio bolso de seus membros?
-Como não registrar algo sobre a morte de Michael Jackson? Pelo menos a parte mais "global" da mídia parece esquecer que o mundo é quase um ENO de tanta efervescência e insisite em buscar seus pontos de IBOPE(aliás,quem é que mede esse troço?)falando e refalando sobre a morte do ídolo pop.O cara tinha seus méritos(e alguns esquecidos desméritos também),mas sobre esse assunto acho que já basta.