
Daquele tipo que costuma acontecer quando você entra na fila de um banco, por exemplo, e percebe quase que de soslaio, que todos ali presentes estão olhando pra você com um ar curioso e inquisidor;
Ou então diante daquela vontadezinha irrefreável de peidar,estando ao lado da namorada.Num restaurante cheio de requinte e completamente lotado.Sentado à mesa também com os pais da garota.
Quando você se vê deitado num leito de hospital e recebe do médico de confiança a notícia de que,possivelmente, nada mais pode ser feito, e que irá morrer.Ou ficar cego.Ou paraplégico.Ou impotente.
Também o pai diante do filho que não para de chorar nervosamente e não se consegue saber as razões.A mãe que espera ansiosa o filho que saiu às dez prometendo que voltaria às três.Isso há 5 dias atrás.O padre que, em meio à seu sermão, vê entrar em seu templo um bêbado cantando e dançando em louvor a um deus, sim,mas grego e de nome Baco.
A velha pedrinha no sapato apertado(precisa dizer mais?)
Tal qual a dona de casa que vê, estarrecida, o herói de sua novela preferida derrepente morrer para o real e para a ficção, o menino que quer colar na prova da escola, estando sentado diante da professora,e a professora que não aguenta mais ver o mesmo menino colar,sem se preocupar em aprender o que ela insiste em ensinar.
Tanto do cotidiano incomoda que não consegue-se perceber que é o próprio cotidiano que importuna e que o mesmo precisa ser reformulado a fim de que não se habitue ao importúnio e ao desgosto, mais ou menos como já estamos lamentavelmente acostumados.
Aquela notícia causa inquietação.Quando na fila, pode-se desviar os olhos e sorrir,pode-se ir ao banheiro para peidar,pode-se entender que a morte é fim inevitável, e que a perda de algumas coisas de um todo não é a perda de um todo,enfim.Mas, aquela notícia,aquela mesmo que transtorna,o que se faz com ela?